terça-feira, 19 de agosto de 2014

Em tempos de guerra - “C’est la Guerre!”



    Em meio de tantos meios de comunicação virtual hoje caiu em minhas mãos um papel de texto universitário qual foi fornecido através da generalidade da ação de exercer a faculdade. No caso dia de hoje a faculdade intelectual foi exercida em dois momentos: financeiro e do literário. Em momento de estudo na disciplina de Gestão de Riscos aprendi que em qualquer área de negócio, faz-se através do planejamento a minimização de risco em cenário otimista, moderado e em cenário de stress. Conforme Bertolucci e Padoveze (2009), “no âmbitio mais geral risco é a probabilidade de um resultado real de alguma atividade ser diferente de seu resultado esperado”. Estudamos hoje como planejar um churrasco utilizando dez mil possibilidades e dentre elas tive muito descobertas tal como a matemática da “Churrascologia” ministrada pelo professor David Ascher. Em segundo momento em noite de lua minguante na qual estou regida pelo ciclo tive o momento de inspiração após leitura da crônica literária contemporânea brasileira aquela na qual o próprio escritor Carlos Heitor Cony, nascido na década de vinte, viveu em época de ditadura militar no Brasil. Minhas inspirações vieram através da fome pelo conhecimento e na busca pela capacitação profissional e principalmente progresso na sociedade brasiliana.


Espero que gostem assim como eu, um abraço pra quem fêz visita esta página, bem vindo!

Atenciosamente,

Gisele Borges





“Cést la Guerre!”, de Carlos Heitor Cony.


Publicado em Antologia de Crônicas, org. Herberto Sales, 3ª ed., São Paulo: Ediouro, 2005, p. 13-14.


    Minhas relações com as Matemáticas nunca foram boas –e exagero ao falar em Matemáticas, no plural e na maiúscula. Nem mesmo a elementar aritmética privou de muita intimidade com meu impenetrável cérebro. Por todos os chamados bancos escolares que lustrei em minhas andanças, sempre deixei a merecida fama de refratário aos números, às operações, às frações e às regras de três. Não cito os logaritmos porque seria um escárnio de minha parte mencionar tais entidades. Não morri de fome pelas sarjetas –como um certo professor um dia profetizou, mas tenho passado vexames abomináveis e tido irrelevantes prejuízos nos trocos. Nada mais do que isso.

    Paralela ao meu desamor pelas matemáticas, ou fruto dele, surgiu uma babosa admiração pelas máquinas capazes de fazer aquilo que não sei nem posso fazer. Não admiro um guindaste, nem um trator –sei que são máquinas movidas por cavalos-vapor, e sei o que seja um cavalo e imagino o que seja um cavalo em forma de vapor de energia. Mas diante de uma simples máquina de somar, tremo os joelhos de emoção e respeito. Já não falo dos cérebros eletrônicos, esses monstros capazes de calcular eclipses, marés, trajetórias planetárias e de jogar xadrez. Não jogo xadrez e pouco ligo para as trajetórias planetárias e para os eclipses. Sei que os cérebros eletrônicos são capazesaté de fazer poemas, o que não conta no saco de seus infindáveis méritos: muito cara-de-pau por aí, muito cérebro ruim também é capaz de fazer poemas, e os poemas terminam em antologias e o cérebro na Academia. 

    Mas voltemos às matemáticas. No outro dia tive babosa admiração não pela máquina de somar, mas por mim mesmo. Deu-se que fui pagar umas contas, dessas contas pequeninas e complicadas que não desprezam os desprezíveis centavos cujo epitáfio o bardo Drummond magistralmente cantou há dias. A fila do guichê era enorme e para ganhar tempo arrisquei fazer a soma dos meus incontáveis débitos. Chegaria ao guichê com o cheque já preenchido e evitaria a justa animosidade dos que esperavam a vez. 

    Apanhei um papel qualquer, escrevi as parcelas com o máximo escrúpulo, tomei coragem e iniciei a soma. Obtive um resultado e ia apelar para uma rígida revisão das contas quando a fila andou e eu tive de andar. Preenchi o cheque e de repente fiquei alarmado: e se a conta estivesse errada? O caixa faria péssimo juízo do meu caráter e os companheiros da fila teriam redobrada razão para me mandarem ao diabo no recôndito de seus ódios e pressas. 

    Eis que o homem do guichê apanhou meus papéis, foi registrando números naquela máquina insignificante, bateu numa tecla achatada e vermelha, puxou uma manivela, a máquina fez um rangido, os mecanismos atritaram lá dentro, e surgiu no mostrador um número que, por espantosa coincidência, era o mesmo que eu havia obtido sem teclas, sem manivelas e sem mecanismos outros que não os do meu parco saber. 

    Sim, minhas pernas tremeram de emoção. Olhei a máquina do homem como um aliado, “aí está uma coisa que reconhece o que valho”, e saí para a rua, leve, a alma em festa. Einstein, ao ver confirmada pelo eclipse de 1927 a sua teoria restrita da relatividade, deve ter sentido o que senti naquele momento. 

    Euclides, Newton, Descartes – cheguei! Custei mas cheguei. Daqui em diante, surgiu um concorrente sério. Tremei em vossas covas que lá vou eu. Por ora, vou exercitar-me honestamente nas contas de subtração. Depois – é a guerra.